segunda-feira, 14 de março de 2016

BOLETIM 14.03.2016!!!


O amigo Leonel Medeiros, que ao lado do seu mano Gustavo e Jorge Ribas compõem o Som Três, enviou-me uma puta crônica pela passagem pro andar de cima, do grande Keith Emerson na última quinta-feira. O chapa Leonel, tratou logo de relembrar os tempos em que os cassetes que gravávamos iam e vinham no toca-fitas do carro, embalando momentos de confraternização ou simplesmente para ouvir música, perseguir instrumentos nas trilhas e admirar a qualidade de tantos músicos que fartavam quando éramos adolescentes. Uma delas, a fantástica From the Beginning do Trilogy de '72 ou Still You Turn Me On, do Brain Salad Surgery de '73, que seguem abaixo e logo após o texto de Leonel. 

R.I.P Keith!!!






"O ELP sempre foi, ao lado do Genesis e Yes, uma das minhas bandas preferidas. Dotado de três músicos extraordinários, a banda escreveu um curto, mas extremamente significativo capítulo na história da música pop. Se por um lado é verdade que a música do trio não é de fácil assimilação, não é menos verdadeiro que representa uma época em que o talento individual, a vontade e determinação do músico preponderava sobre opiniões de não músicos que julgam-se capazes de controlar o artista engessando o processo criativo e delimitando a arte.
A pirotecnia dos shows de hoje precisa pagar tributo ao embrião que nos idos anos 70 protagonizou os mais bombásticos  eventos: Emerson, Lake and Palmer!
Mais do que a genialidade de uma música que hoje parece destituída de sentido, um trio que contava com Greg Lake, que deixou o já cult King Crimson para se aventurar ao lado do tecladista elogiado por Hendrix - e que quis com ele formar uma banda e o fenomenal Carl Palmer, espetacular baterista, foi sobre Emerson que pairou a nuvem de ódio do furacão "punk".
Movimento engendrado por não músicos que movidos também pela inveja, queriam almejar o sucesso dos famosos e gozar uma boa vida repleta de luxo e riqueza sem muitas vezes sequer saber afinar um instrumento, condenaram bandas num julgamento sumário e injusto tachando-os, por influência de jornalistas e executivos de gravadoras inescrupulosos, de "Dinossauros".
Sim, o ELP foi gigante, e Emerson era um músico que tocava incomparavelmente. E como isso ainda incomoda aqueles que acham que boa música não é dom, não é talento, é apenas movimento.
O ELP, ao contrário dos congêneres citados, deixou a cena muito cedo e retornou esporadicamente lançando poucos discos (Black Moon é ótimo), e não foi exitoso na tarefa de manter acesa ou reacender a chama do clássico prog rock nas novas gerações e obter na ativa o reconhecimento merecido. Mas a vida pode ser injusta muitas vezes, entretanto, a tirania dos três acordes do punk não cala a excelência da música de uma banda transbordante de talento e coragem, que ousou sempre e não se acomodou. E isso é sempre digno de menção.
Claro que há exceções, mesmo assim gosto de "Love Beach", apesar da capa bisonha e de algumas tosquices.
Contudo, é no mínimo curioso o posicionamento dos que se vangloriam e cobram constante evolução da técnica, da linguagem e dos costumes, na crítica tão voraz a um tipo de música que sempre desafiou os limites do músico.
E Emerson só parou quando não podia mais tocar.
Quando o ELP iniciou uma grandiosa turnê com orquestra no ano de 1977, tendo que interrompê-la pelos custos elevadíssimos de manutenção, um grupo de jovens músicos clássicos americanos que acompanhava a banda procurou o trio, e em nome dos demais disse que tocaria sem receber nada, por alimento e hospedagem apenas. Isso sensibilizou os caras e o empresário, todavia, o sindicato do músicos norte-americanos impediu que tocassem sem nada receber, privando-os de uma experiência que excede o dinheiro, acompanhar músicos extremamente talentosos que se divertiam nos palcos como poucos.
Em resumo, a questionável sabedoria de alguns inibindo a capacidade e coibindo a vontade de jovens músicos, numa época em que se passou a incutir pretensões artísticas na cabeça de muitos moleques sem talento. Mais um exemplo que comprova que menos não é mais. O "faça você mesmo" dos três acordes não é maior que o "infinito tangível" que algumas passagens do ELP demonstram realmente existir.
Quem duvidar ouça a música que nomeia o disco "Trilogy" de 1972 no vídeo abaixo. O arranjo é deslumbrante.


Todo processo revolucionário, sempre engendrado por poucos, e com a música não seria diferente, precisa destruir o que se conquistou com tanto esforço para que a utopia da igualdade exerça o seu papel enganador. O resultado é o seguinte: não sou bom instrumentista e tampouco componho boas melodias, mas mereço o mesmo reconhecimento!
Sei que há injustiças maiores.



No mais, a banda musicou brilhantemente o poema de William Blake, "Jerusalem" (acima), a cidade celeste que de acordo com o Cristianismo é o lugar eterno preparado para todo aquele que depositou sua fé e esperança em Cristo, e, como singela homenagem a mais um brilhante músico que se vai, gosto de imaginar que a sua condução à eternidade está sendo preparada ao som das trombetas tocadas pelos anjos evocando "Fanfare for the Common Man".




E recebido pelo Cordeiro Sagrado de Deus, como diz o poema de "Blake", ele certamente ouvirá: "Welcome Back My Friend To The Show the Never Ends"!
Por que somos fruto do Amor de Deus e para Ele retornaremos.


Valeu Emerson!"

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